Tratamento
Um ano de toucas geladas no Ceron
20 pacientes já se beneficiaram da tecnologia que minimiza a perda de cabelo durante a quimioterapia
Foto: Carlos Queiroz - DP - Vera Maria Rodrigues utilizando a touca enquanto fazia a última sessão de quimioterapia
Neste mês, o Centro de Radioterapia e Oncologia (Ceron) da Santa Casa de Pelotas completa um ano de utilização da touca gelada que minimiza a queda de cabelo durante a quimioterapia. O hospital, que é o único da cidade a oferecer esse recurso via Sistema Único de Saúde (SUS), recebeu a doação do equipamento do 2º Cartório de Registro de Imóveis em Pelotas. Ao longo deste primeiro ano, 20 pacientes finalizaram o tratamento utilizando a tecnologia.
O uso da touca é destinado para pacientes com câncer de mama, que representam 55% da demanda do Ceron. Atualmente, são 542 pacientes. Entre elas, a dona de casa Vera Maria Rodrigues, 68, e a diarista Muriele Duarte, 38. Ambas usaram a tecnologia ao longo do tratamento e dividiram a experiência com o Diário Popular. Vera, inclusive, conversou com a reportagem utilizando a touca enquanto fazia a última sessão de quimioterapia. "É uma beleza. Não caiu um fio de cabelo. Foi muito bom. A touca é gelada só no começo, depois não incomoda nada", avalia a paciente, que é natural de Pinheiro Machado e vem para Pelotas à tratamento desde abril.
Muriele, que encerrou a quimioterapia em outubro e está no aguardo do início da radioterapia, reforça a avaliação positiva. "Para mim, foi muito bom. Eu tava me preparando para a perda de cabelo, porque na época não sabia que tinha essa touca. Já tinha até o lenço comprado. Aí cheguei aqui e tive o privilégio de usar", relembra. Para ela, a tecnologia foi um incentivo a mais para vencer as sessões. "Essa função do cabelo mexe muito com a mulher. O importante é a recuperação e tu ficar bem, o cabelo vai crescer, mas saber que tem mais um recurso hoje te dá mais vontade de querer passar logo por isso", observa.
Prevenção, fé e positividade
Com sorrisos no rosto e muita tranquilidade ao falar da luta contra o câncer, as duas pacientes do Ceron dividem outros aspectos que também as auxiliaram nesse período. "Tem que ter fé, ser positivo, manter o padrão vibratório alto. A gente é capaz. Manter o equilíbrio, não pensar negativo. Não se entristecer, não se importar se vai perder o cabelo ou se vai retirar a mama, nada disso. É viver, viver e viver", conta Muriele.
Além da importância da família, que acompanha Vera em todas as sessões, ela destaca outro fator importante: a prevenção. Sem nenhum sintoma perceptível, o diagnóstico do câncer de mama da dona de casa veio após uma mamografia incentivada durante uma confraternização, em outubro de 2022, no grupo de idosos que participa. "Foi minha sorte né, se não ia descobrir muito tarde. É muito importante. Tem que fazer a mamografia e se cuidar. Toda doença que é socorrida no início fica bem mais fácil", enfatiza.
Aceitação e autoestima
Quem pensa que todas as pacientes desejam utilizar a touca, se engana. "Quando a gente liga pra agendar a quimioterapia, elas não sabem que tem a touca, e a gente sempre dá a opção de fazer ou não o uso. Tem pacientes que dizem que não tem problema em perder o cabelo", conta a enfermeira responsável técnica pelo Ceron, Marcelle Dutra. A aceitação da tecnologia, segundo a enfermeira, é boa, mas nem todos conseguem continuar até o fim do tratamento, já que o protocolo vai além do uso da touca durante as sessões e requer uma série de cuidados no dia a dia.
Na prática, a maioria dos pacientes do Ceron perde o cabelo. Apesar do susto inicial do diagnóstico e das consequências do tratamento, isso está longe de ser um problema. "A partir do momento que eles chegam aqui, conhecem outras pessoas na mesma situação, têm a equipe de enfermagem dando apoio, as doações de lenços, eles passam a entender que tá tudo bem [perder o cabelo]", observa Marcelle. A gestora administrativa do Centro, Letícia D'Oliveira, complementa. "A aceitação da doença vem aos pouquinhos. Quando tu convive com outros pacientes, tu te sente acolhido com as histórias dos outros pacientes", observa.
Sobre a touca
A tecnologia disponível no Ceron, de origem 100% nacional, é o Sistema Thermia. A touca é colocada 30 minutos antes da aplicação do medicamento e permanece até 90 minutos depois do final de todo o processo. A temperatura reduzida da touca diminui o fluxo sanguíneo no couro cabeludo, o que expõe menos a região aos quimioterápicos. Marcelle explica que, além do uso na hora da quimioterapia, há uma série de outras recomendações, como usar sabonete neutro, evitar tudo que possa aquecer o couro cabeludo (chapinha, secador, bonés, lenços, etc), tomar banhos mornos a frios e outros.
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